Pode parecer estranho, eu sei. Anos e anos de reclusão e agora eu decido ter um blog. Pois foi justamente para se contrapor à série de especulações e informações sobre os anos em que vivi afastado dos holofotes, que inevitavelmente aparecerão na mídia, que eu inaugurei esse canal.
Já adianto que não tenho revelações bombásticas sobre esses anos de recolhimento. Na verdade, tudo não passou de uma estratégia equivocada. Eu percebi logo que Holden Caulfield, personagem principal de O Apanhador no Campo de Centeio exercia grande influência sobre os jovens. Influência essa que escapava à minha compreensão. Adolescentes do mundo inteiros levados pela inocência perdida de Holden passavam a cometer atos tresloucados. Frutos de interpretações equivocadas, muito distantes de minhas intenções originais.
Como vocês sabem, Mark David Chapman, assassino de Lennon, estava lendo O Apanhador no Campo de Centeio minutos antes de tentar o suicídio. E o próprio declarou que a obra o teria inspirado a matar o beatle.
O atirador que tentou matar Ronald Reagan, um dos poucos que me leram certo, afirmou que também teria tirado do mesmo livro a inspiração para acabar com a vida do presidente.
Esses dois são os casos mais célebres. Há muitos outros. Os efeitos colaterais de O Apanhador pipocaram pelo mundo afora e, em especial, no Brasil. Mas poucos relacionaram as consequências às causas. Aqui cito apenas algumas.
O presidente Costa e Silva teria lido apenas cinco páginas, quando teve a ideia de promulgar o AI-5.
O cantor Roberto Carlos, depois de uma leitura devotada, compôs Lady Laura num só fôlego.
Zico, na Copa de 86, sem nada para fazer na concentração e confundido pela palavra “Campo” no título do livro, teria passados os olhos no O Apanhador, antes do jogo em que ele errou um pênalti e o Brasil foi eliminado pela França.
Fernando Henrique estaria ainda sob a influência de Holden Caulfield quando indicou Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal.
São Pedro leu duas vezes O Apanhador no mês passado, durante suas férias de verão em São Paulo.
Eu queria ter tido uma vida de Paris Hilton. Mas decidi me afastar da mídia, passei a evitar qualquer tipo de câmera e me calei para as entrevistas. Pensei que assim eu evitaria que meus livros ficassem em evidência e causassem mais danos. Foi, como disse, uma estratégia errada. A melhor maneira de as pessoas não prestarem atenção na sua obra é a superexposição. Uma vez sob a luz dos refletores, importa mais o que você veste, com quem está dormindo, onde passou as férias, que dieta está fazendo.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
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Jerome, o TSE do DF descobriu que seu livro é o mais lido por lá.
ResponderExcluiro mino releu in memoriam para escrever o memoriável editorial sobre a esquerda brasileira.
ResponderExcluirParabéns, jotadê, você é o primeiro a utilizar a palavra fanfarrão na história da rede internacional de computadores. Uma vez eu usei pândego e cáspite na mesma frase e tive que dar explicações no Dops.
ResponderExcluiradorei
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